Um reflexão sobre comunidades, propósito, produção de conteúdo na contemporaneidade.
Na parte 1 eu trouxe um pouco da contextualização sobre onde estamos e o que é esse mercado em que trabalhamos.
E as perguntas finais eram:
Será que o que queremos é uma indústria de comunicação?
Será que queremos manter essa lógica de produção?
Será que queremos criar e alimentar comunidades para manter uma exploração?
Será que queremos que toda energia e renda gerada com nossa criatividade continue nas mesmas mãos?
Pois bem, minha comunidade humana, a humanidade.
Eu me pergunto: a propósito do quê?
De uma vida melhor? Para quem? Pra você, ou pra todxs? Dentro de quais parâmetros?
"Para todxs, claro. Mais equanimidade, mais justiça social, mais consciência ambiental." Seria o discurso mais sustentabilizável do meu ego...
Sim, entendi. E se esse mais significar menos?
Menos produtos, menos vendas, menos lucro, menos exploração?
E SE a real força da comunidade estiver no alinhamento de valores e na percepção de que a comunicação é muito mais do que um mercado? De que a comunicação é na verdade uma tecnologia humana que nos possibilita o contato, a troca, o intercâmbio e cocriação de um mundo que nós queremos ver.
Que a nossa comunicação seja muito mais do que atender às necessidades das marcas. MAS que também possa ser construída com essas marcas, afinal, por trás das marcas, existe o quê? Humanos. Sim, same old, same old.
Estamxs mesmx juntxs nesse barco, ainda sem saber se usamos x ou e para aquilo que não conseguimos definir na nossa comunicação.
Sem pretensão de perfeição, proponho mais uma reflexão:
Se estamos falando tanto de comunidade, comunicação, propósito, conteúdo. Tudo isso se baseia no quê? No humano. E qual o ativo humano mais anunciado pelas empresas e experts de inovação como sendo o ativo do século?
Sim meus irmãos e minhas irmãs, a criatividade.
Aquela, que nos trouxe até aqui. Nossa capacidade de criar, reinventar, sonhar, idealizar e realizar. Eu acredito que a criatividade é não só uma habilidade inerente a todos os seres humanos, principalmente aos brasileiros, vide nossa incrível capacidade de produzir memes, mas também um posicionamento diante da vida.
Ser criativo é estar aberto às mudanças e ao não saber. Quer convite maior que a covid-19 veio nos trazer? Aprender a se relacionar com o não saber.
E a partir desse lugar, primeiro escutar. Para, depois, cocriar uma nova realidade, que atenda às reais e mais diversas necessidades humanas. Mas, para isso, vamos ter que um pouco mais profundo na nossa desconstrução de crenças e aprender que falar sobre comunidade é muito mais do que ter um público qualificado e engajado.
Falar sobre comunidade é o primeiro passo para voltarmos a pensar e agir em comunidade. Isso pressupõe deixar de lado, nas nossas individualidades, crenças, ideias e atitudes que compramos com o capitalismo, como por exemplo, a meritocracia e o consumismo desenfreado. E isso demanda de cada um de nós uma revisão dos nossos valores e o desenvolvimento de uma maturidade. Trazer o propósito para um lugar de consciência desperta de que nós somos o mercado, nós somos a comunidade, nós somos a humanidade.
E nós somos as criativas, os criativos e xs criativxs que podemos fazer qualquer mudança acontecer. Basta saber: qual é o nosso propósito?
Continuar a criar para caber no vender e crescer na lógica de produção?
Ou criar o que pulsa no fundo de cada um de nós e evoluir, expandindo a nossa voz?
Na verdade, não basta saber. Tem que também não saber. Para reaprender a saber escolher.
Escrevo a propósito de quê? De gerar uma reflexão. E quem sabe ativar a força múltipla da criação. Expandir minha voz é muito mais do que criar novas certezas e sim viver na certeza de que é na minha comunidade, na humanidade, na força e na voz da diversidade e através da criatividade, que eu realizo minha missão: Ser uma humana em evolução.