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A vida dos criadores negros realmente importa para você?

A vida dos criadores negros realmente importa para você?
Gleidistone Silva | @eugleidistone
jun. 9 - 7 min de leitura
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O Brasil é um país de maioria preta e parda. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE essa população representa 56,10% dos brasileiros, sendo 19,2 milhões pretos e 89,7 milhões pardos, de um total de 209,2 milhões de habitantes. 

Observando esses dados, por que as listas dos maiores criadores do Brasil não possuem influenciadores negros? Quantos criadores negros possuem mais de 1 milhão de seguidores ou inscritos em seus canais?

A partir daí podemos pensar em como vidas negras estão representadas em todos os mercados, inclusive no do marketing de influência. 

Os últimos acontecimentos levaram a uma reflexão sobre o tema.  A última semana foi sinônimo de exaustão para muitos criadores negros e escancara como o mercado de influência ainda é racista. 

Afinal, vidas negras realmente importam para você?

Essa pergunta é muito importante pois ela baliza todas as ações de pessoas pretas e não pretas. Dizer que vidas pretas importam é uma coisa, ter atitudes antirracistas é outra. 

Vamos a um teste rápido e simples:

  • Quantas pessoas pretas você segue no Instagram?

  • Quantos amigos pretos você tem?

  • Quantos colegas de trabalho pretos você tem?

  • De quantos empreendedores pretos você comprou recentemente?

  • Você ligou ou fez videochamada com uma pessoa preta durante esse período de isolamento?

Se você não conseguiu responder positivamente, ou seja, no mínimo 1 para cada resposta, considere-se uma pessoa que de fato não se importa com vidas negras. Não é fácil aceitar isso, mas é uma realidade. 

Um diagnóstico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) de 2018 mostra, por exemplo, que negros têm um rendimento de 67,8% se comparados às demais etnias. Para melhor entendimento, o rendimento médio da população negra ocupada é de R$ 9,10 por hora, já as de pessoas não negras representa R$ 13,41 por hora.

Já outro relatório do IBGE mostra que o salário de um trabalhador negro pobre é, em média, 46% menor do que o de um trabalhador branco pobre, sendo que o rendimento mensal do negro é de R$ 658, enquanto o do branco é de R$ 965.

Ainda em 2016, os negros ganhavam, em média, 57% dos salários dos brancos – R$1.458 contra R$ 2.567. A renda salarial de uma pessoa negra no Brasil era de R$ 1.545 contra R$ 2.924 de um branco, uma diferença de 53%.

Quando falamos de pessoas com ensino superior os dados também comprovam essa lacuna. Segundo cálculo do Instituto Locomotiva, a diferença salarial também é significativa, chegando a 31%, quando comparam-se salários de pessoas brancas e negras com ensino superior, mesmo que isoladas todas as demais variáveis.

Todos esses dados provam que apesar de representarem a maior fatia da população, as pessoas negras são as que recebem menos. E no meio do mercado de marketing de influência essa realidade assusta ainda mais. 

Como creators podem apoiar creators negros?

Quantos criadores negros participam das mesmas campanhas que você? Essa é uma das perguntas que podem nos ajudar a entender o quanto pessoas pretas ainda não estão representadas nas ações publicitárias. 

Você, como creator não preto, pode auxiliar essas pessoas cedendo espaços de fala a elas. 

Um movimento que tem tomado as redes sociais nesta última semana é o de artistas quem têm cedido sua audiência para pessoas pretas.

O Desafio 1% já teve o ator Paulo Gustavo cedendo sua conta no Instagram para a filósofa Djamila Ribeiro, Bruno Gagliasso que também oferecceu suas redes para a ativista e empreendedora Luana Génot e Tatá Wernek, que abriu suas redes sociais para a cantora Linn da Quebrada.

Este é apenas um exemplo, mas você pode contribuir também:

  • Divulgando conteúdos de criadores negros;

  • Fazendo lives e cocriando com creatos negros;

  • Engajando nos conteúdos de creators negros;

  • Sugerindo criadores pretos para campanhas que você participa ou marcas parceiras.

Como marcas podem apoiar creators negros?

Existe uma tendência a estabelecer cotas raciais também para campanhas com criadores. Muitas vezes os creators pretos, quando são escolhidos,  estão presentes por serem pessoas pretas e ocuparem um espaço mínimo nas ações de marcas, e não por todo seu potencial criativo. 

Isso sem falar de marcas que só pensam em creators negros no mês de novembro em função do Dia da Consciência Negra. São convites para campanhas, palestras, lives, enfim, mas que duram apenas 1 mês, semana ou 24 horas. 

Outro fator é o valor pago aos influenciadores negros. No episódio Por que o mercado paga menos para os creators negros?, do podcast Dia de Brunch, Nataly Neri, creator negra que fala sobre beleza sustentável e autocuidado, desabafa contando que, após fazer várias campanhas, descobriu que os valores pagos foram bem menores e o número de entrega foram maiores, se comparados aos dos creators brancos que participaram das mesmas ativações. 

Outro aspecto que ela aborda é que muitas vezes o contrato não chega a ser fechado, em função de ser uma criadora negra. Ela conta que por diversas  vezes criadores não negros fazem ações para as quais ela foi cotada, recebendo cachês maiores do que o orçado por ela inicialmente, mesmo com engajamento menor. 

De acordo com uma matéria do portal The Drum, creators negros são mais abordados para receberam permuta, em detrimento de criadores brancos, que são mais remunerados por ações de publicidade. 

Sendo assim, a grande questão é: as marcas avaliam o engajamento ou a imagem dos creators às quais elas desejam se associar? 

Por isso, marcas, valorizem o trabalho de creators negros. Selecionem estes profissionais por seu potencial criativo, seu conhecimento e domínio em seus nichos, e não apenas por causa da cor da pele para cumprirem cotas em suas campanhas. Paguem valores correspondentes às entregas e métricas de sucesso relacionadas ao objetivo de marketing de cada ação. 

O que muda a partir de agora?

Não sei responder o que muda. Vimos muitos criadores e marcas aderindo ao movimento "Black Lives Matter", ou "Vidas Negras Importam" com posts usando a hashtag #BlackoutTuesday. 

O protesto virtual contra o racismo, desigualdade e violência policial, em apoio aos protestos tomaram todas as redes, mas nos leva a reflexão se é algo que de fato ajudou a mobilizar, ou criou um efeito contrário, como o de silenciamento de criadores negros. 

É importante destacar que vivemos assim como nos EUA um racismo que é estrutural, ou seja, a sociedades brasileira está estruturada com base na discriminação que privilegia algumas raças em detrimento das outras. 

Essa mudança não se dará de um dia para o outro. Não será com hashtag ou campanhas realizadas apenas em novembro. 

Trata-se de um tema que precisa ser discutido e refletido todos os dias, por todos os atores do mercado de marketing de influência: creators, agências, marcas, dentre outros. 

Você que é creator negro, como tem visto todo esse movimento e quais são suas queixas e demandas? Deixe aqui nos comentários e vamos tornar o #ClubeDaInfluência em uma rede de apoio também! 

Ah, aproveite para me seguir no Instagram e no Twitter também! É só buscar por @eugleidistone por lá. 😉🤎


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