Por meio das redes sociais, Ketly Vieira entendeu como poderia ajudar outras pessoas a sair de casa com mais segurança e tranquilidade. Conheça a história da principal influenciadora cadeirante do Brasil!
Até completar 14 anos, Ketly Vieira (@ketly.vieira) vivia a rotina de uma adolescente paulistana: frequentava a escola, fazia curso de modelo e curtia passeios com a família. Bastou a primeira queda na rua ou a falta de força ao subir no ônibus para entender que algo não estava certo com sua saúde. Ela ainda não tinha o diagnóstico concreto, mas aqueles eram os primeiros sintomas de distrofia muscular, uma doença genética e progressiva que só apresenta seus sinais na adolescência ou, em alguns casos, na fase adulta. Foram sete anos de exames e consultas em diferentes hospitais de São Paulo para Ketly receber a notícia de que possuía a rara doença.
Cinco anos após o diagnóstico, ela começou a usar bengala e, 10 anos depois, assumiu a cadeira de rodas. Nesse processo de descobrimento e adaptação, Ketly foi atrás de seus sonhos. Finalizou o colégio, ingressou na faculdade de Administração e se casou. “A princípio, pensei na facilidade e escolhi um curso que achava que poderia fazer sem problemas. Educação Física, por exemplo, eu sabia que não conseguiria cursar. Tinha noção das minhas limitações”, explica Ketly, a principal influenciadora cadeirante do Brasil.
Aos 20 anos, ingressou no mercado de trabalho e seguiu trajetória na área financeira. Sua meta anual era, nas férias, fazer uma viagem bacana. Com o tempo, Ketly começou a organizar um arquivo com lugares e as experiências vividas, porque, caso quisesse voltar, já saberia se era acessível. “Eu não ia conseguir guardar todas as informações na cabeça, então resolvi colocar no computador. O que eu fazia: Porto Seguro, dá para ficar no hotel X, em Brasília no Y”, conta Ketly. E foi assim que ela acabou se tornando referência em viagens — até para os amigos sem necessidades especiais. Porque, nas palavras de Ketly, se o local é bom para quem precisa de alguma adaptação, ele será ainda melhor para quem não precisa.
Depois de compartilhar muitas dicas de locais com colegas de trabalho, amigos e familiares, ela decidiu colocar o seu conhecimento na rede. O ano era 2017, e Ketly mal sabia que, a partir daquele momento, sua vida ia se transformar novamente. “Entendi que tinha informações muito preciosas para deixar no computador. Por isso, resolvi abrir a conta no Instagram. Mas, eu não tinha pretensão de me tornar uma influenciadora”, conta. E, para sua surpresa, em menos de 02 meses ela já tinha 10 mil seguidores.
O primeiro convite para visitar um hotel serviu como alerta: ela realmente havia se tornado uma influenciadora digital. “Eles queriam que eu fosse visitar para avaliar se estavam adaptados para receber pessoas com o mesmo tipo de necessidade que as minhas”, afirma.
Ao contrário de quem não precisa de nenhum tipo de adaptação, quando organiza uma viagem, Ketly precisa ligar na companhia aérea, avisar que tem uma cadeira de rodas sendo embarcada. Depois, entra em contato com o hotel, pede foto do quarto, do banheiro, vê a possibilidade de se acomodar nos locais, verifica o tamanho da cadeira de banho e afins. Quando compartilha essas informações em suas redes, o seguidor não precisa ter o mesmo trabalho quando for viajar.
Hoje, só no Instagram, Ketly já conta com mais de 57 mil seguidores que, assim como ela, buscam por locais com mais acessibilidade. No perfil de seguidores também estão presentes idosos, grávidas, pessoas que sofreram algum acidente (fratura de membros) e mães com crianças pequenas. E os conteúdos vão além das viagens!
Caminho para a representatividade
Ketly gosta de deixar claro que não precisa só fazer publi de cadeira de rodas ou de banheiro adaptado. Ela pode explorar marcas de roupa, de make, de livros. “As marcas precisam nos ver como pessoas normais, que consomem outros produtos”, enfatiza. O seu desejo é mostrar que a pessoa com deficiência pode falar sobre qualquer coisa e as marcas precisam entender que isso é inclusão e representatividade.
Positividade sempre!
Nas redes sociais, a influenciadora tenta mostrar a melhor maneira de se locomover, viajar e aproveitar a vida. O seu objetivo é fazer com que os seus seguidores se motivem a sair de casa. “Nos meus posts, quase não tem notícia ruim. Pelo contrário, eu quero incentivar as pessoas a viver uma vida normal. Eu ensino como pegar o metrô ou mostro o melhor jeito de subir no ônibus. O meu conteúdo é pensado para empolgar as pessoas – com deficiência ou não a sair de casa sem medo, explorar os espaços. Costumo dizer que existe vida após uma cadeira de rodas. É isso que eu quero mostrar”, revela.
O local mais acessível que visitou foi…
De todos os lugares que passeou, incluindo nacionais e internacionais, a Disney, com toda certeza, foi o mais acessível. Para Ketly, eles organizam o parque de tal forma que a pessoa com deficiência fica igual ao restante dos visitantes. “Lá, em qualquer brinquedo, eu entro com a minha cadeira, você entra no carrinho e vamos ter a mesma experiência!”, explica. Mas, ela enxerga preocupações com acessibilidade em solo brasileiro também. “Porto Seguro, por exemplo, não é uma cidade acessível, mas os resorts locais já estão se adaptando para oferecer mais acessibilidade. Eles querem atrair esse público, que representa aproximadamente 24% da população — que vai desde a pequena deficiência até a mais severa”, diz.
Para ser influencer é preciso…
Quando o assunto é criar conteúdo e influenciar pessoas, Ketly acredita que conhecimento e propriedade são importantíssimos. “Um bom influenciador é aquele que conhece o seu próprio tema, que tem propriedade para falar sobre tal e gosta muito do assunto com que trabalha. Eu posso mostrar como se faz um bolo, mas eu não sei cozinhar. Então, não saberia dar detalhes sobre o modo de preparo ou até passar a receita corretamente para as pessoas”, afirma. Anotou a dica?