Celular nas mãos e redes sociais, dois grandes vilões da administração do nosso tempo. Somos capturados pelas imagens e caímos na tentação do olhar, por onde internalizamos um mundo criado e, muitas vezes, fake. O nosso passatempo se tornou um hábito nocivo e, quando vemos, lá estamos nas redes novamente. Perdemos o controle e, com ele, nossa saúde mental.
São fotos de festas, paisagens, rostos e corpos perfeitos, makes, moda… Imagens aparentando uma perfeita harmonia. Tudo tão bonito e inspirador que a vida compartilhada nas redes passou a ditar regras e ser o sonho de consumo de grande parte de seus usuários. Há uma cultuação do perfeito e do belo.
O uso excessivo das redes sociais e seu conteúdo são um dos responsáveis pelo aumento dos quadros de depressão e ansiedade, assuntos já refletidos aqui anteriormente. Agora, temos mais um fator para contribuir com o que já não estava bom, o crescente uso dos filtros, os famosos retoques digitais na própria aparência.
Nesse momento você se pergunta: e que mal há em querer ficar melhor na foto? Eu respondo: nenhum, não há problema no uso dos filtros!
O problema está na frequência com que eles são utilizados. Vivemos em um momento de narcisismo exacerbado e com uma distorção da autoimagem.
A obsessão pela imagem perfeita leva a um autocentramento que tira de nós a capacidade de estarmos abertos ao mundo e de experienciar as relações de forma mais verdadeira, espontânea e natural.
Olhar para a própria foto e não gostar do que se vê tem sido motivo de sofrimento para muitas pessoas, percebe-se aí uma desproporcionalidade na autocrítica, gerando angústia, insatisfação e consequências à saúde mental.
O ato de se editar sugere que, emocionalmente, algo não está bem
Vejo que os filtros deixaram de ser uma ferramenta de uso casual e diversão, para causar impactos na identidade e autoestima das pessoas. Os casos mais extremos podem levar ao transtorno dismórfico corporal e afetar as relações sociais, desempenho acadêmico e laboral.
A valorização da nossa sociedade em relação ao corpo se comprova nas mesas de cirurgia. A última pesquisa divulgada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, com levantamento feito em 2018, o Brasil lidera o ranking do país que realiza mais cirurgias plásticas no mundo.
A Sociedade Brasileira de Medicina atribuiu o aumento nas cirurgias plásticas estéticas e procedimentos não cirúrgicos ao uso das redes sociais. Eles alertam para a busca de adequação e aceitação por meio das intervenções, sem questionar a viabilidade das mesmas.
Os jovens acabam sendo muito influenciados, visto a inadequação corporal vivida em decorrência do próprio processo de maturidade. Recentemente também advertiram para a banalização dos procedimentos, como da bichectomia.
Diante disso, tendo a pensar que esse comportamento pode ser um sintoma e camuflar sentimentos e emoções não cuidadas.
Reforço a importância do autoconhecimento, do equilíbrio e da aceitação para uma vida mais saudável.
Recentemente, a atriz Maria Bopp, criadora da "Blogueirinha do Fim do Mundo", lançou um vídeo falando exatamente sobre isso e, principalmente, alertando sobre os perigos do excesso de filtros. Dê o play aqui.
O pensamento do sociólogo Zygmunt Bauman sobre a “modernidade líquida”, contribui para pensar que a preocupação excessiva com a imagem evidencia a desvalorização do ser e o medo de inadequação a um mundo que muda de forma veloz. Enquanto cuida-se da superfície, vemos crescer os índices de depressão, ansiedade e suicídio.
A pergunta que fica é: será que estamos retocando a coisa certa?
Cuide-se!
Um beijo e até a próxima
Ficou com alguma dúvida? Entre em contato comigo: grazi.squidit@gmail.com.
*Créditos da imagem: Reprodução/Instagram